domingo, 12 de agosto de 2012

4:44 – Último Dia na Terra




4:44 – Último Dia na Terra é um filme perturbador, cuja raiz é a incontornável angústia de morte.


Nele, Ferrara narra o fim do mundo, que terá lugar a uma hora precisa.

A todo o instante, esta finitude anunciada é colocada em paralelo com a finitude própria da natureza humana: todos sabemos o que nos espera...

No discurso complexo, sofrido e transtornado, há um misto de culpabilidade – a terra tem o seu fim marcado por força da inabilidade humana, voraz e gananciosa, que a destruiu – e de inexorável – o fim-mortal é o termo, estando anunciado.

Para além de uma mensagem apocalíptica, geradora de uma angústia dificilmente suportável – e Dafoe exprime-a (encore une fois) com o génio habitual -, esta obra materializa o luto da omnipotência.

Assistir a esta representação, aos 41 anos, reitera a ideia de um horizonte, necessariamente delimitado e preciso, para o qual se caminha, agora, com a consciência da finitude.

Ao mesmo tempo, o inexorável destino, ao longo do filme, sofre transformações elaborativas, que abrem caminho a saídas mais airosas e suportáveis desta condenação à mortalidade, a que todos fomos castigados, por termos ousado a transgressão...

Várias – e vãs! – são as tentativas do protagonista para contornar o insuportável: a mania, a mentira (a toxicodependência), etc...

Resta-lhe o amor da mulher amada, que o acompanha na derradeira viagem. Juntos caminham para o destino comum a todos.

O filme é belo e Dafoe toca as raias do génio.

Viver não é sinonimo de eternidade – a saída omnipotente -, tampouco é aguardar passivamente o termo – resposta depressiva. Ferrara et al (re)mostram-nos que viver é amar e criar.

Pelo amor se concebe, nasce e vive. O resto é etéreo.