sábado, 30 de maio de 2009

Blasfémia & Luxúria em Buñuel

É no Buñuel tardio que a dimensão perversa – no sentido psicanalítico do termo (contra o curso habitual da sexualidade) – atinge o seu paroxismo: Tristana, Belle de Jour e Esse Obscuro Objecto do Desejo retratam, em pleno, o funcionamento perverso.

« O sado-masoquismo e a clivagem (cisão do EU) perpassam as obras citadas, atingindo a expressão suprema no derradeiro filme de Luis Buñuel. Nas três películas, o jogo e alternância entre posições sádicas – poderosas vs masoquistas – submissas e humilhantes é mais eloquente do que a esmagadora maioria dos escritos psicanalíticos sobre a psicopatologia da perversão.»

Aqui e ali – Diário de uma Criada de Quarto e Viridiana – Buñuel faz as suas preliminares incursões no universo da distorção, nomeadamente por via do fetichismo.



Decididamente, Viridiana tem outro propósito, bem distinto do expresso na fase derradeira da carreira do cineasta.

Viridiana é, antes de mais, um exercício de pura blasfémia e exaltação da luxúria.

Nesta singularíssima obra, corrosivamente, o aragonês afronta uma certa moral católica, evidenciando a esterilidade dos respectivos valores. Afinal, o exercício da bondade e caridade cristã revelam-se contraproducentes: os desafortunados não hesitam em morder a mão que, abnegada e maternalmente, os protegera, alimentara e cuidara. Mais: os mesmos mal-fadados, quando acedem ao requinte e luxo, corroem-no da forma mais vil.

Diante destas verdades, à virginal Viridiana, apenas lhe resta a inexorável entrega à luxúria.

Ópera Nacional da Noruega

Eis o novo edifício que alberga, doravante, a Ópera Nacional da Noruega:

Thomas Hampson



Thomas Hampson é o mais refinado e destacado barítono lírico da sua geração.
Tive a felicidade de o ver em ópera, on stage - Don Giovanni (papel titular, Met' 04) e Arabella (Mandryka, C
hâtelet - Paris' 05).

Hoje ao cair da tarde, na Gulbenkian, muitos irão deliciar-se com a sua elegância e veludo interpretativo. A não perder, por nada deste mundo.

Preconceitos

Por recomendação do senhor dr, não estarei presente em nenhuma das récitas de Don Giovanni, ora em cena no Teatro Nacional de São Carlos. Ao que julgo saber, o São Carlos não dispõe de equipamento de reanimação. É que eu, caro e fiel leitor, já vou caminhando a passos largos para os quarenta e "a idade não perdoa", como sabiamente diz o povo. Há coisas que nos fazem muito mal. Devemos evitá-las.

«O que vai você lá fazer, caro João? Com 42 interpretações d’A Ópera, fique por casa e deleite-se com uma delas, homem!»

Fugindo à regra dos clássicos, hoje, sugiro uma das mais heterodoxas:


terça-feira, 26 de maio de 2009

O asco



Lars Von Trier é um realizador deplorável que, sob a capa de uma estética ousada e de uma racionalização permanentemente falhada – no sentido psicanalítico do termo –, impregna as suas criações de fantasmas sadomasoquistas.

Breaking the Waves, perto de Dogville, é de um amadorismo e inocência impressionantes.

Dogville – seguramente o mais abjecto e desprezível filme a que assisti – é uma criação perversa, trespassada por um fantasma primitivo, que apenas ilustra a dinâmica sadomasoquistas: o gozo secundário à humilhação e submissão, tão próprio da masoquismo, transforma-se numa destrutividade absoluta, vingativa e sádica.

Sou, por natureza e dever de ofício, pouco dado a reacções emotivas e fáceis manifestações de grande sensibilidade. Por norma, procuro no aparentemente insólito e chocante uma outra significação. Melhor dito: o meu ofício é a resignificação. Contudo, Dogville não é susceptível de uma significação outra: um puro exercício perverso, o mais miserável e pobre que o psiquismo humano pode conceber.

Abaixo de cão, portanto.


* * * * *
(0/5)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Anéis para todos os gostos


(O Ouro do Reno - Bayreuth -, à esquerda -, e A Valquíria - Met Opera House -, à direita)



(A Valquíria - Opera de Los Angeles -, à esquerda, e Siegfried - Washington National Opera -, à direita)

«“Robert will be using a palette of contemporary stage techniques, but his intention is to tell the story straight,” Mr. Gelb said. Audiences who saw Mr. Lepage’s new production of Berlioz’s “Damnation de Faust” at the Met last fall, with its sophisticated video elements, may be expecting much the same from his “Ring.” Not necessarily, Mr. Gelb said, though, like any director today, Mr. Lepage will take advantage of the breakthroughs in video technology, especially when they can help to depict Wagner’s immolating castles and overflowing rivers. “Visually it will be advanced and spectacular,” Mr. Gelb promises. Maybe so. Still, partisans of the Schenk “Ring” are going to be a tough audience to win over.»

Ao cabo de vinte anos, a tradicional encenação proposta por Otto Schenk d’A Tetralogia retira-se. Segue-se a proposta de Robert Lepage, literalmente no segredo dos deuses, que apenas verá a luz do dia na próxima temporada, no Met.

O que transpira é que será muito "straight". De acordo... seja lá isso o que for.

Così fa Haneke

sábado, 23 de maio de 2009

Herr Kaufmann

Jonas Kaufmann, contrariamente ao que se pensa, não teve uma ascensão meteórica. O grande tenor conta com uma respeitável carreira de quinze anos. Pelo que dele se conhece, vislumbra-se um magnífico destino wagneriano, agora que a maturidade se aproxima.

O seu primeiro registo a solo é um assombro. Consta que o segundo – cuja comercialização está para breve – coloca a fasquia ainda mais alto.

Pouco dado a deslumbramentos e tiradas tontas – como os respeitáveis (entre outros adjectivos menos simpáticos) Alagna e Villazón -, Kaufmann revela uma extrema prudência e contenção.

Ver-se-á o que lhe reserva o destino.

Pela minha parte, se tivesse de escolher um tenor, depois de Windgassen, Kraus e Domingo, Jonas Kaufmann seria o eleito.


(Jonas Kaufmann como Alfredo - Met Opera House)

«FROM his safe haven in the ensemble of the Zurich Opera House, Jonas Kaufmann has seen more than one young tenor set the world on fire and swiftly flame out. Now that he is racking up triumphs in one musical capital after another, he hopes his path will be different.

“To reach the top is definitely less difficult than to stay there,” Mr. Kaufmann, 39, said recently by telephone between performances of Massenet’s “Manon” at the Vienna State Opera, the scene of his latest conquest. “In the past no one became a star overnight. Now things can happen very fast. Quick to rise, quick to fall. I’m very thankful for my 15 years of experience. I can lean back and be a little more relaxed at all the craziness than if I were a rookie.”

(…)

A critic once described his timbre as, paradoxically, “light and dark,” an assessment the album bears out. It also documents Mr. Kauffman’s elegant musicianship, his idiomatic ease in three languages and a temperament that, though introverted by operatic standards, is thoroughly involving. Though he rises easily to the pitch of high passion, intimate passages seem whispered into the ear. He can achieve that effect in the theater as well, though it is harder.

(…)

“I regard Kaufmann as certainly one of the greatest tenors on the international scene,” Mr. Abbado said from Bologna. “He is a complete artist, the only one who could pass the test of such a broad repertory with such assurance and such excellent results.”

(…)

These days Mr. Kaufmann fields constant offers for new productions at the top houses. The soprano Angela Gheorghiu does not mind taking credit, having requested him as her love interest in prima donna vehicles like Puccini’s “Rondine” and Verdi’s “Traviata” at the Metropolitan Opera, Covent Garden and La Scala on the strength of a DVD from Zurich that her manager gave her.

(…)

Powerhouse appearances in London, Vienna, Milan and Paris in weighty parts like Bizet’s Don José (in “Carmen”) and Puccini’s Cavaradossi (in “Tosca”) have shown Mr. Kaufmann to be much more than a diva’s trophy walker. Still, asked to list the milestones of his career, he names just one: his Met debut in 2006, opposite Ms. Gheorghiu, as a midseason replacement in “La Traviata.”

“I came to the Met as more or less a nobody,” Mr. Kaufmann said, “and the audience gave me a standing ovation. I was overwhelmed, absolutely. The reaction wasn’t based on my name or my reputation but 100 percent on what I did that night. From that moment on all the European houses that had already hired me suddenly took me more seriously. It was like the Ritterschlag — how do you say that in English?” The dictionary gives “accolade,” in the sense of the stroke of a ruler’s sword, conferring knighthood.

The Paris Opera is scheduled to have Mr. Kaufmann in January for the title role in Massenet’s “Werther” (role debut, new production). His commitments have precluded premieres at the Met for a while, though he has signed as Siegmund (another role debut) in the new Robert Lepage production of Wagner’s “Ring” beginning in 2010-11. Meanwhile he will be back next April as a late-season replacement in new productions of “Carmen” and “Tosca.”

For now his mind is mostly on Lohengrin. “He has many layers,” Mr. Kaufmann said. “Underneath the radiance there’s bitterness and disappointment. Making him sympathetic isn’t easy. What people tend to see in a hero is the heroic exterior. But what’s interesting is not the shell. It’s the human being within.”»

Festival de Salzburgo com novo director artístico



A edição de 2011 do Festival de Salzburgo contará com Alexander Pereira como director artístico:

«The Salzburg Festival in Austria announced that it had chosen Alexander Pereira, the Zurich Opera House’s chief, as its next artistic director. In a news release, the festival said that the decision had been made on Tuesday at a meeting of its advisory board, and that Mr. Pereira, left, would officially begin his five-year term in October 2011. He will succeed Jürgen Flimm, who will take over as artistic director of Deutsche Staatsoper Unter den Linden in Berlin next year. Mr. Flimm announced last year that he would not continue at the Salzburg Festival, for which he had been artistic director since 2006 and at which he had clashed with Thomas Oberender, the festival’s drama director. Agence France-Presse reported that other candidates to succeed Mr. Flimm included Pierre Audi of De Nederlandse Opera in Amsterdam and Stéphane Lissner of La Scala in Milan.»



Eis o curriculum do senhor (extraído do site oficial do Festival):

Alexander Pereira, born in 1947 in Vienna, worked initially in tourism management and then for Olivetti for twelve years. In his free time, he studied vocal performance. From 1979 to 1983, he was a board member for the Frankfurt Bach Concerts; in 1984 he was appointed Secretary General of the Vienna Konzerthaus, where he managed to modernize the concert scene and attract a new and younger audience. Since the 1991/92 season, Alexander Pereira has been Director of Zurich Opera House, where he began his tenure with an acclaimed Robert Wilson production of Lohengrin. From the start, Alexander Pereira realized that the continuous development of the ensemble was his most important task. He also attached great importance to encouraging promising young singers, staging productions in accessible form and involving audiences, as well as to co-operating with great artists. The central goal of Alexander Pereira’s Zurich programming is to present the great repertoire of opera, from Mozart to Verdi, although the house has also won acclaim for its contemporary productions. Schlafes Bruder by Herbert Willi, based on the novel by Robert Schneider, was commissioned by the Opera House and premiered in 1996, and in 1998, Heinz Holliger’s opera Schneewittchen, based on a story by Robert Walser, saw its first performance. These were followed by Beat Furrer’s Invocation and HK Gruber’s opera Der Herr Nordwind in 2005. In addition, less well-known works in the repertoire are regularly included in the program, such as Rameau’s Les Boréades, Haydn’s L’anima del filosofo, the operetta Simplicius by Johann Strauss, Giordano’s La cena delle beffe, Wolf-Ferrari’s Sly, Schubert’s Fierrabras, Zemlinsky’s Der Kreidekreis, Chabrier’s L’Etoile und Halévy’s Clari. Since the autumn of 1996, he has also held the post of Artistic Director and has also been a member of the Artistic Committee of the Zurich Festival, in whose creation he played a leading role and which took place for the first time in the summer of 1997. Lately, Alexander Pereira has focused much of his attention on shaping an active and diverse education program for the Zurich Opera House, and on creating an increased presence for the Zurich Opera productions on the international DVD market. Alexander Pereira’s contract with Zurich Opera House runs until 2012. Beginning on October 1, 2011, Alexander Pereira assumes the position of Artistic Director of the Salzburg Festival.

FCG em Crise




O Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian, em tempos de crise, parece ter entrado em contenção de gastos. A temporada de 2009 / 2010 constitui a mais pobre e desoladora de que há memória.

Além da salutar presença de Mathias Goerne e Anna Caterina Antonacci, de uma ou outra assinalável personalidade – Gardiner, Maria João Pires, Sokolov, Lupu,
Von Otter em pré-reforma e os habituais Pollini e Ma -, pouco mais há a destacar.

Então em matéria de canto, pobreza e a palavra de ordem...

Grandes Orquestras, nem vê-las; ópera em versão de concerto, uma miragem. Aposta-se na prata da casa – Orquestra Gulbenkian, sob o comando do habitué Foster.



Melhores dias virão, creio.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

João Bénard da Costa (1935 - 2009)

Por defeito ou virtude, sou pouco dado a elogios fúnebres. Também por defeito ou virtude, evito o culto e / ou enaltecimento de uma qualquer personalidade.

Com a psicanálise, aprendi que, quanto mais um objecto – no sentido psicanalítico do termo (a ler como o outro) – é idealizado, mais se oculta uma faceta persecutória do mesmo.

O caso de João Bénard da Costa (JBC) é disso mesmo ilustrativo: as intermináveis vénias e tapetes escarlates estendidos escotomizaram o óbvio, ossia o despotismo da criatura, entre outros vícios.

Jamais privei com o Senhor, apenas o conhecendo por via da escrita – Os Filmes da minha Vida, volumes I e II. Li-os com inegável interesse, tendo ambos constituído verdadeiras bússolas nas recentes (mas apaixonantes) incursões que venho fazendo pelos clássicos do cinema. Também graças a Bénard da Costa, aprofundei a minha admiração pelo cinema de autor, mergulhando cada vez mais fundo em obras de mestres como Dreyer, Welles, Visconti, Bergman, Buñuel, Truffaut e Antonioni, entre muitos e muitos outros.

Na escrita, o estilo de JBC sempre me desagradou. A pose ainda mais antipatia desencadeava em mim. Quanto à sua gestão da Cinemateca Portuguesa, não me pronuncio. Por incrível que possa parecer, nunca a frequentei, sendo que vivo a escassos três minutos das suas portas.

Verdadeiramente, o que é relevante é o desaparecimento de alguém que, ao seu jeito, nutriu e enquadrou apaixonadamente o meu amor pelo cinema.
O resto é da ordem do fait divers.



Paz à sua Alma.


ps JBC era, como eu próprio, um apaixonado pela música lírica, tendo escrito com propriedade, nomeadamente, sobre alguns dos seus expoentes máximos. Recordo um notável artigo sobre o desaparecimento da magistral Stich-Randall e uma fascinante leitura da última (superlativa) La Traviata do São Carlos, com Theodossiou no papel titular. No capítulo da crítica musical, sempre o achei mais contido e sóbrio, nada dado aos seus excessos habituais. Calados & Companhia, vera classe de gente que procura ocultar a sua condição plebeia com trôpegos adornos puramente snobs, deveria reler o JBC melómano! Faziam boa figura e prestavam melhor serviço aos leitores.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O bom filho à casa torna, ossia GO ON HARMONIA MUNDI!!!

Em menos de uma década, o mago do lied - qual Fischer-Dieskau -, ossia Mathias Goerne, revisita A Bela Moleirinha.
Vou comparar ambas as leituras e deleitar-me...
E ainda há quem diga que as editoras apenas se movem pela ganância e facilitismo!

Disse-me um passarinho...

Entrementes, a mesma DG disponibiliza – em formato exclusivamente virtual, hélas! – dois artigos tentadores:

Uma A Mulher sem Sombra (R. Strauss), com Borkh, Mödl, Thomas e Fischer-Dieskau…
E uma colectânea de árias de ópera italiana, interpretadas por Antonietta Stella.

Pedir os mesmos artigos em formato real não é nada do outro mundo, pois não, caro leitor?!

terça-feira, 19 de maio de 2009

O Mozart de Jacobs, ossia Idomeneo


(HMC 902036.38 5-2009 )
LinkDepois de uma notável interpretação de Così fan Tutte, uma magnífica leitura de As Bodas de Fígaro, uma excepcional e histórica recriação de Don Giovanni e de uma sólida A Clemência de Tito, é agora a vez de René Jacobs se lançar a Idomeneo. O ciclo das óperas mozartianas de referência apenas ficará completo com as gravações de Lucio Silla, O Rapto do Serralho, A Flauta Mágica e Mitridate.

Por razões diferentes, à semelhança de Gardiner, Jacobs faz história na lírica de Mozart: onde o inglês é ousado, o belga é rigoroso e metódico.

É aguardar, senhores... E vida longa à Harmonia Mundi!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

As virtudes da Perversão...

E agora, vou para a cama... na companhia de Viridiana...



Buñuel não cessa de me surpreender. A cada magistral obra segue-se um passo em diante, no sentido da perversão.

Perto d’O Aragonês, Sade e os seus Os Infortúnios da Virtude são de uma imensa mediania.

O Triunfo da Voz Média

Ontem foi a vez da soberba Borodina, cuja prestação comentarei mais tarde.


(Olga Borodina)

A 26 do corrente retorno à ilha deserta Gulbenkian, parra assistir a outra grande voz média, Susan Graham. Encerro o ciclo com chave de ouro, a 30 de Maio, por ocasião da apresentação do magnífico Thomas Hampson (by the way, o melhor Don Giovanni desde Siepi).


(Susan Graham e Thomas Hampson)

Join me ;-)

Finalmente Boccanegra!

Talvez a vitalidade inusitada de Plácido Domingo provenha da mania (tal como a definem os psis). Para o caso, pouco importa.

Verdadeiramente, o que importa é que o ocaso de Domingo é, por sistema, protelado. Tanto melhor!

Quem já o viu em palco, sabe que o seu magnetismo não tem paralelo, na actualidade lírica. Infelizmente, apenas assisti ao Parsifal do grande tenor, em 2001, numa convencional (ainda que bela) encenação, no Met. Naquela noite, depois de quase 5 horas em pé, também eu contactei com a(s) divindade(s).

O que trás de volta Plácido Domingo a este espaço é a sua futura interpretação do papel titular de Simon Boccanegra, all over the world, from 2009/2010 on. Bem vistas as coisas, contrariamente ao que por aí se diz, não se trata de uma estreia de Domingo, agora como barítono!
Quem tem a memória viva sabe que Domingo se iniciou na lírica – ou zarzuela – nessa mesma categoria vocal.

Pessoalmente, creio que "o bom filho à casa torna".

Long live Pácido Domingo. É o mínimo que se pode desejar.

domingo, 17 de maio de 2009

Disse-me um passarinho...

... ossia News from Heaven!



Um Serse (Handel) vindo directamente do baú, com Popp; um recital de Vivaldi com Kozená e um registo romântico com o superlativo Kaufmann...

(mais) Razões para a felicidade terrena!

Habemus Heldentenor!

Quando Ben Heppner - o maior heldentenor dos últimos 15 anos - se reformar, haverá um sucessor...

Ei-lo!

nota: ouse o vídeo, se dúvidas tiver.

Expressões artísticas do Ódio, Malignidade e Horror



Em Quem tem medo de Virgínia Wolf?, Mike Nichols – a partir da peça homónima de Edward Albee – ilustra o sadomasoquismo, no contexto das relações de casal, na sua expressão mais destrutiva e patológica.

Martha (Elisabeth Taylor) e George (Richard Burton) - e respectivos alter ego, ossia Honey (Sandy Dennis) e Nick (George Segal) – mantêm e nutrem vínculos primordialmente subsidiários do ódio: insultam-se, agridem-se, ferem-se, infligindo-se mutuamente humilhações constantes.

Este estilo relacional, monolítico, imensamente destrutivo, visa a aniquilação psíquica do outro. O gozo radica na destruição, e no castigo sofrido.




Em Jenufa (Janacek), o estilo sadomasoquista reveste-se de um carácter ainda mais maligno e radical.

A jovem e bela Jenufa engravida do estouvado Steva. A gravidez é mantida na clandestinidade, com o auxílio da mãe de Jenufa, Kostelnicka.

Kostelnicka, ferida de morte no seu narcisismo – a gravidez da filha macula-lhe(s) a honra -, recorre ao assassínio, como forma de restauração da dignidade manchada: mata brutalmente o próprio neto, assim fazendo desaparecer a marca do pecado e desonra.

Sublinho: o móbil do abjecto e insano gesto de Kostelnicka é, apenas e só, a ferida narcísica da própria. A
criança conspurca-lhe o bom-nome e honra. A defesa da dignidade de Jenufa constitui um trôpego pretexto.

ps assisti há uns anos a uma inolvidável récita de Jenufa, apoiada nesta estupenda e justamente famosa encenação de Olivier Tambosi (foi criada originalmente para a Hamburgische Staatsoper, tendo passado por Covent Garden, além do Met), em Nova Iorque, no Met. À época, foi a Kostelnicka de Anja Silija quem mais me marcou. No caso desta Jenufa, indubitavelmente, Eva Marton constitui a suma glória da récita, compondo uma Kostelnicka inultrapassável: infinitamente maligna e crua, de uma brutalidade animalesca, para além do concebível. O vibrato selvagem, no caso desta personagem, não é defeito, é feitio!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Lucia (di Lammermoor)

Aos 56 anos interpretou live uma Lucia de antologia, perpetuada em áudio por uma editora marginal. A dita Senhora conta, presentemente, com 61 primaveras.



pista única: não é eslava, sendo bem latina.

Kostelnicka (Buryjovka)

Are you looking for the ideal one?
Here she is:



pista única: a grande, grande senhora nasceu em 1943 e só aos 62 anos (por ocasião da gravação desta Jenufa) me convenceu; melhor dito, conquistou-me!


Guess who she is!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Nina Stemme: concerto em Madrid, no Real



«Nina Stemme ha decidido asumir la dificultad del personaje de Brunilda, del Götterdämmerung de Richard Wagner, para presentarse en el Teatro Real. "Mi voz está preparada para ello. Ha llegado el momento de poder interpretar determinados papeles que antes me parecían imposibles".

"Llevo mucho tiempo trabajando como soprano lírica ligera y he ido asumiendo poco a poco papeles más grandes. En Colonia tuve la oportunidad de trabajar a Puccini y el repertorio italiano. Llegué a Wagner después de mucho tiempo y de haber logrado la maduración perfecta en mi voz. Se puede crear una carrera en 10 años y estropearse en una noche", sentencia la soprano sueca. La trayectoria de Stemme ha estado labrada de éxitos como su interpretación de Isolda en Tristán e Isolda, pero también ha sido muy aclamada por Aida o por Un ballo in maschera. Ha ido combinando el repertorio wagneriano y el italiano.

Ayer, en su presentación en el Teatro Real habló de dos de sus compositores favoritos Verdi y Wagner. Del primero dice que es "el alma de la ópera". ¿Y Wagner? "Él está más allá, porque aunque su tema sea la mitología en realidad habla de relaciones y emociones humanas. Cuando cantas a Verdi encuentras el alma en cada frase, pero en Wagner en cada sílaba".»

«(...) la soprano sueca Nina Stemme cantaba Al ir a dormir, tercera de las Cuatro últimas canciones de Richard Strauss, sobre un texto de Herman Hesse, que finaliza con el anhelo del alma de "elevarse libremente para, en el círculo mágico de la noche, vivir profundamente mil y una vidas".

Stemme, de blanco evocador, la cantó maravillosamente. Su voz desprende sosiego y serenidad. Es aterciopelada, ideal para la melodía, por su centro hermoso y su estilo intimista. El mismo año que salió catapultada a la fama tras su primera Isolda en Bayreuth dio en el teatro de los Margraves de la ciudad bávara uno de sus primeros recitales, declarando en paralelo que era un mundo muy frágil que había que cuidar con esmero.

En los cuatro o cinco últimos años, la cantante ha tenido una carrera operística fulgurante y una evolución en el mundo del lied coherente y profunda. Ayer en el Real demostró que es una artista con cabeza. Se volcó con el Wagner operístico de El ocaso de los dioses -complementado con Träume de los Wesendoncklieder, como primera propina- y con el Strauss de concierto de madurez. Y en uno y otro empeño convenció desde la contención expresiva y la belleza del canto puro. Stemme es una cantante que diferencia con precisión la ópera del lied. Más extrovertida en la ópera, más confidencial en la canción, su mirada es siempre interior.»

Não há, na actualidade, soprano lírico-dramático de maior envergadura cénica e vocal que Nina Stemme. Mattila, embora pertencendo à mesma categoria, privilegia o lirismo, em detrimento do drama. Por isso, nunca foi - nem será - Isolda.

Como explica a intérprete sueca, sabiamente, com o tempo, a sua voz tem amadurecido, estando presentemente como peixe na água no território mais dramático - Brunilde e Isolda.

A sua Isolda é uma lenda, ao nível das maiores pretéritas. De uma beleza aristocrata, com um timbre de ouro, voz ampla e majestosa. Como cereja em cima do bolo, o público do Grande Teatro Real escutou-a n'As Quatro Últimas Canções, de Richard Strauss. Ele há pessoas com sorte...


Muito atrasado, parto para Madrid, amanhã. Stemme prometeu-me um concerto em exclusivo. Não pretende o leitor conhecer mais detalhes... Se insistir, mesmo assim, vai ficar sem conhecê-los!

Regresso à capital lusa Domingo, depois de um outro rendez-vous - menos excitante, a todos os níveis, mas ainda assim digno de referência -, com Olga Borodina.

Hasta luego!