domingo, 27 de maio de 2007

Bullying: a explicação da psicanálise

Por via da Identificação Projectiva – conceito criado por Melanie Klein, na década de 1940 -, o sujeito tem a ilusão de livrar-se de partes de si, intoleráveis, colocando-as no interior do outro (o objecto). Este mecanismo proporciona ao sujeito uma sensação de omnipotência, dado que lhe alimenta um vivido de controlo.

Este conceito – absolutamente fundamental, nomeadamente na compreensão e explicação da dinâmica psicótica (ansiedade paranóide, delírio, etc.) – permite explicar de forma bastante razoável e clara fenómenos como o racismo, a discriminação e o (tão em voga) bullying.

No caso deste último, o sujeito / grupo mais não faz do que nomear um bode expiatório, doravante portador do material psiquicamente intolerável por parte dos ditos sujeito e / ou grupo.

Recentemente, os media têm divulgado o caso de discriminação de que tem sido alvo uma criança portadora de doença oncológica.

A dita criança – identificada com o cancro, leia-se com a morte, em derradeira instância – torna-se, deste modo, a portadora das angústias de morte dos colegas, que se mostram incapazes de as integrar / suportar.

Afastando-se o colega portador do mal, ilusória e omnipotentemente, irradica-se a morte do espectro mental!

O bullying é, pois, uma entre tantas outras manifestações da Identificação Projectiva patológica, essencialmente evacuativa.

Em minha opinião, ou se tem em consideração este aspecto - bullying determinado pela Identificação Projectiva -, na abordagem dos colegas de escola da mencionada criança, ou a intervenção psicológica estará votada ao fracasso, sobretudo se se investir no moralismo pedagógico - "Temos de ter compaixão pelos desfavorecidos, não os discriminando!!"

3 comentários:

Aporias disse...

Muito pertinente esta abordagem. Já li várias vezes este post.
Torna-se urgente ter uma perspectiva abrangente e aprofundada das causas destas disfunções, ultrapassar os preconceitos de senso comum. O moralismo pedagógico acaba por funcionar como um activador do vírus psicológico ou social em vez de actuar como vacina ... e muitas vezes é hipócrita ou como se costuma dizer apenas politicamente correcto.

Il Dissoluto Punito disse...

Cara Helena,

Não há como conhecer a realidade escolar / pedagógica para compreender o alcance deste fenómeno, não?

Aporias disse...

Pois é, uma vez que se enfrentam, quase diariamente, problemas desta índole.